quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Pensar os Livros.


 
Tenho andado com algumas questões relativamente ao que me propus fazer aqui. Resolvi escrever um texto que me ajudasse a pensar sobre a Literatura e sobre a Arte enquanto forma de expressão.

A arte move-nos e rodeia-nos. Seja qual for o tema, a forma, a verdade é que somos, todos os dias, transportados por essa forma de comunicação. O que é, de facto, estranho uma vez que não existe uma definição de Arte. Ou seja: haverá um limite para a Arte? Precisará de um limite?

Estas questões foram-me colocadas aquando da leitura da biografia de Virginia Woolf. Apercebi-me que é possível sermos críticos em relação ao que lemos mas não é isso que define a escrita. O melhor exemplo é o facto de Woolf não ter simpatizado nunca com James Joyce e a sua obra Ulisses e esta ser uma obra-considerada-prima do Século XX. Então, questiono-me: como pode um escritor julgar outro? O que é, afinal, boa literatura? Qual o critério?

Posso, evidentemente, tratar todo este tema através das inúmeras teorias da literatura. Posso seguir a lógica de Aristóteles e abandonar todos os textos que não sigam as suas regras. Posso deixar que Burke me influencie. Ou posso esquecer todos eles e deixar a opinião pública julgar todas as obras literárias do mundo. Mas será viável deixar nas mãos do "gosto pessoal" a história da literatura? Talvez ficássemos à beira da anarquia. Talvez deixasse, a certo ponto, de existir Literatura. Mas não é o que temos actualmente? Os livros são criados e aceites por uma sociedade sem princípios artísticos viáveis. A opinião pública das massas passou a ser o único critério para as editoras. Se antes era necessário qualquer coisa de intelectual, de sofrido (nem que fosse o tal sofrimento da página em branco que levou tantos escritores à loucura), hoje é apenas necessário que se obrigue o leitor a esquecer a realidade e embrenhar-se numa qualquer ficção cheia de lugares comuns e falsas verdades. Pior: o leitor escolhe essa facilidade como se fosse um mal menor já que é "obrigado" a ler.

À pergunta "o que procuras num livro?" saberia responder sem vacilar: procuro-me. Mas será essa a vontade dos outros? Daqueles que se deixam guiar por uma literatura infantil e cinzenta, sem preocupações relevantes para o avanço da mentalidade e da própria sociedade? Parece-me que já ninguém lê para ouvir os ensinamentos de um Outro. Para conhecer o mundo e conhecer-se a si próprio. Lêem porque faz bem ao Ego. Lêem porque não encontram nada de melhor para fazer. Já ninguém diz ao ler: nunca tinha pensado nisto. Porque não há nada de novo. Nada do que é dito nas páginas dos livros actuais é, de facto, novidade. Será medo de encarar a vida? A verdade? O nosso "Eu"? Será isso que nos faz procurar levezas e simplicidades? O medo de olhar para dentro e nos reconhecermos não no herói mas no vilão? Woolf soube preencher o imaginário dos seus leitores com personagens reais. O leitor e a personagem passam a ser um só. Identificam-se um com o outro. Não há heróis. Não há vilões. Há pessoas. Há realidades escondidas no dia-a-dia. Mas já ninguém quer saber de Virginia Woolf. Já ninguém quer saber de Tólstoi, sequer, a menos que seja para preencher um imaginário descuidado. Como quando somos crianças e queremos ser uma Branca de Neve ou uma Cinderela. (Oh, como seria bem vindo um comentário a dizer como estou errada. Que, afinal, Woolf ainda faz parte dos nossos dias. Que Jane Austen ainda é uma realidade…)

Pergunto-me qual o segredo do sucesso dessas histórias sobre vampiros, por exemplo. Será a perspectiva da imortalidade? Será o tal "amor impossível e para a eternidade"? Se assim é por que razão está Bram Stoker tão esquecido? Não é ele o autor de um dos maiores romances de sempre? Um amor que não é para sempre mas para a eternidade? Encontrei em "Drácula" toda a Humanidade. E, talvez por isso, não seja lido com a mesma facilidade de um outro qualquer livro de vampiros simpáticos e pacíficos. Novamente, o medo. O medo de olharmos para a Humanidade e repararmos nos "vampiros" sedentos de sofrimento e vingança que não esquecem nem perdoam. O medo de sermos menos do que aquilo que julgamos ser.

E, se não é o medo, será a preguiça? Como poderá o cinema ser uma arte tão bem trabalhada e cativante e a Literatura ficar tão esquecida? Não começou esse mesmo cinema por ser um story-telling? Não é o cinema um contar infindável de histórias? Algumas até bastante relevantes como obras principais do desenvolvimento humano? Então sugiro que o cinema possa nutrir uma vantagem ainda não conquistada pela Literatura: a imagem. Para mim não há diferença. Mas consigo compreender a facilidade da imagem visualizada em detrimento da imagem contada e imaginada. Ler é ser-se cego. Estou consciente desse facto e apraz-me sabê-lo. O autor sempre me sussurrou ao ouvido aquilo que a imaginação lhe ditava e eu, de olhos fechados e mente aberta, criei sempre o meu próprio quadro, a minha própria imagem. O cinema dá-nos menos possibilidades. A única visão é a do realizador. Todas as outras são deixadas de fora e o espectador não pode interferir.

A preguiça de fazermos, em conjunto com o autor, o seu livro é demasiado grande para a nossa sociedade. Entristece-me sabê-lo. Saber que o mundo vive de momentos criados pela impassibilidade. Que já ninguém se dá ao trabalho de dar ao seu mundo novos mundos. Estamos estagnados. Estamos cada vez mais vazios. Estamos cada vez menos humanos necessitados de evoluir. De conhecer. De criar. A Arte não tem, de facto, limites. Nem o artista. Somente a Humanidade.


Caty.


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