terça-feira, 4 de novembro de 2014

A Rainha Sou Eu


Vitória.

Por si só o nome revela a força daquela que o exibe em condições únicas. Afinal foi rainha “por não existir mais ninguém”. E nós, anos depois, agradecemos esse vazio. Vitória de Inglaterra não se limitou a ser rainha. Não se limitou, sequer, a ser mulher.
 
Numa altura em que o feminismo ganha estatuto é particularmente interessante observar uma mulher que, não deixando a obstinação de lado, governou por anos e anos sem nunca vacilar. sessenta anos exactamente. A par com ilustres nomes da sociedade mais antigas ou mais recentes(recordemos as irmãs Bronte, George Eliot e recuando até encontrar uma Jane Austen sedenta de inovação), Vitória nunca deixou as suas obrigações por cumprir. Elevou a noção de familia a um novo patamar mostrando ao mundo que uma mulher pode ser mãe, esposa e governante sem descurar qualquer um dos papéis. E não é isso que ainda hoje se discute? Que ainda hoje serve de batuta para as vidas agitadas da sociedade actual? Entristece-me que Rainhas e Escritoras, Pintoras e Cientistas tenham descoberto aquilo que ainda é desconhecido à mulher fechada nas suas noções de escolha com medo de vacilar e de falhar apenas porque não é capaz de tudo. De não ter direito a tudo. E a nada, até. Direito à escolha acima de tudo.
Cruzei-me com um livro bem português sobre uma rainha bem inglesa. Vitória de Inglaterra parece ser um hino não só à mulher que governou por sessenta anos aquele país como uma prova da coragem de todas as mulheres ao longo dos séculos. Quem não recorda Isabel, a Rainha Virgem que levou Inglaterra aos limites da coragem e honra? Ou D. Isabel, mulher de D. Dinis, que não era Santa mas diplomata e confidente apontando com sensatez o caminho daquele que era, em boa verdade, o legítimo rei de Portugal? Reconheço, com orgulho de mulher, a quantidade de excelentes mentoras do progresso feminino. Quando ainda a palavra feminismo não existia. Lutaram, amaram, sofreram e sempre abriram caminho por entre as cortes, as sociedades e as muitas teorias de que ser mulher é ser-se fraco.
Isabel Machado vem escrever-nos que não foi assim com Vitória nem foi assim com todas as mulheres que cruzaram o mundo e os seus mundos. Sem elas seríamos vazio. Sem a doçura, a compustura e, por vezes, a maldade não existiria futuro.
Caminhamos através das vaidades da juventude, o amor (pois só houve um sufiecientemente forte para fazer vacilar a soberana), a familia e o poder. Desde que Vitória se torna Sua Majestade até ao seu ultimo suspiro somos invadidos por arrepios, lágrimas e risos cortantes. Alegra-nos o dia ler aquelas tão sábias palavras. Como pode uma mulher só albergar tanto da vida? Uma mulher apaixonada pela vida, pelos sentimentos, pelo ser-se humano. Vitória levou deste mundo inúmeras aprendizagens. E nós com ela aprendemos a ser mais e melhores. A ansiar por tudo o que a vida nos possibilita sem fechar os olhos a nada. Nem mesmo ao sofrimento. Porque também ele faz parte da vida.
Vitória de Inglaterraé uma bonita homenagem à Rainha. Mas, acima de tudo, é uma homenagem a todas as mulheres que, como a própria autora, se sacrificam todos os dias para dar um pouco de si aos outros. Orgulho-me de escrever estas linhas imaginando que sem elas jamais as poderia escrever e saborear. Afinal ser Mulher é importante. Existe beleza e delicio-me em saber que, naquele século, já era belo ser-se Mulher e ter direito à escolha. Ter direito a ser tudo. Ser Rainha, Imperadora, Mãe, Mulher, Esposa. Direito a ser-se Mulher.

Caty.